A língua: bênção ou maldição?
A língua é um dos menores membros do corpo humano, mas sem dúvida um dos mais poderosos. Com ela, podemos edificar ou destruir, confortar ou ferir, abençoar ou amaldiçoar. Muitas vezes, falamos sem pensar, reagimos com palavras antes mesmo de refletir, e nos esquecemos que aquilo que sai da nossa boca tem um impacto profundo e duradouro.
A Bíblia nos alerta severamente sobre o uso da língua. Em Tiago 3:5-6 – "Assim também a língua é um pequeno membro, e gloria-se de grandes coisas. Vede quão grande bosque um pequeno fogo incendeia. A língua também é um fogo; como mundo de iniquidade, a língua está posta entre os nossos membros, e contamina todo o corpo, e inflama o curso da natureza, e é inflamada pelo inferno." Tiago nos mostra que, apesar de ser pequena, a língua pode causar estragos enormes, comparando-a a uma faísca capaz de incendiar uma floresta inteira. Ela é retratada como instrumento de iniquidade, com potencial de contaminar todo o ser humano.
Jesus também nos lembra de onde vêm as palavras más: Mateus 12:34 – "Raça de víboras! Como podeis vós dizer boas coisas, sendo maus? Pois do que há em abundância no coração, disso fala a boca." Aqui, Cristo denuncia a hipocrisia dos fariseus e afirma que nossas palavras são o reflexo do que realmente há em nosso interior. Se nossos corações estiverem cheios de ódio, orgulho ou malícia, nossa língua inevitavelmente refletirá isso.
Tiago continua sua exortação dizendo: Tiago 4:11-12 – "Irmãos, não faleis mal uns dos outros. Quem fala mal de um irmão e julga a seu irmão fala mal da lei e julga a lei. Ora, se tu julgas a lei, não és observador da lei, mas juiz. Há só um legislador e juiz, que pode salvar e destruir. Tu, porém, quem és, que julgas a outrem?" Falar mal do próximo não é apenas uma questão de comportamento social ruim; é pecado. Criticar, julgar e difamar os outros nos coloca em um lugar que não nos pertence: o de juiz.
A Bíblia também nos dá conselhos práticos sobre como devemos nos portar: Provérbios 10:19 – "Na multidão de palavras não falta transgressão, mas o que modera os seus lábios é prudente." Falar demais geralmente leva ao pecado. O sábio é aquele que sabe calar quando necessário, evitando palavras impensadas que podem ferir.
Por isso, Tiago aconselha: Tiago 1:19 – "Sabei isto, meus amados irmãos: todo o homem seja pronto para ouvir, tardio para falar, tardio para se irar." A pressa em responder ou reagir pode ser perigosa. A sabedoria está em ouvir mais e falar menos, controlando não apenas o que dizemos, mas também nossas emoções.
Esse domínio da língua é enfatizado também em Provérbios 21:23 – "O que guarda a sua boca e a sua língua guarda das angústias a sua alma." O autocontrole no falar nos livra de muitos problemas, conflitos e sofrimentos desnecessários.
Mas como podemos dominar algo tão difícil de controlar? A resposta está no Espírito Santo. Gálatas 5:22-23 – "Mas o fruto do Espírito é amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança. Contra estas coisas não há lei." Somente guiados pelo Espírito conseguiremos produzir frutos como mansidão e domínio próprio, que são essenciais para controlar a língua.
O apóstolo Paulo também nos orienta sobre o que deve sair de nossa boca: Efésios 4:29 – "Não saia da vossa boca nenhuma palavra torpe, mas só a que for boa para promover a edificação, para que dê graça aos que a ouvem." Nossas palavras devem edificar, trazer graça e consolo. Não fomos chamados para ferir, mas para curar com aquilo que dizemos.
A sabedoria de Salomão reforça: Provérbios 17:27-28 – "O que possui o conhecimento guarda as suas palavras, e o homem de entendimento é de precioso espírito. Até o tolo, quando se cala, será reputado por sábio; e o que cerra os seus lábios, por entendido." Às vezes, o silêncio é a melhor resposta. Até quem nada entende pode parecer sábio se souber calar na hora certa.
Provérbios 13:3 – "O que guarda a sua boca conserva a sua alma, mas o que muito abre os lábios tem perturbação." Este versículo destaca que há um custo espiritual em falar demais. Palavras impensadas podem trazer ruína à nossa vida.
Tiago novamente reforça a importância do controle da língua: Tiago 3:2 – "Porque todos tropeçamos em muitas coisas. Se alguém não tropeça em palavra, o tal é perfeito, e poderoso para também refrear todo o corpo." O domínio da fala é sinal de maturidade espiritual. Quem consegue controlar a língua, pode controlar todo o seu comportamento.
Salomão ainda adverte: Eclesiastes 5:2 – "Não te precipites com a tua boca, nem o teu coração se apresse a pronunciar palavra alguma diante de Deus; porque Deus está nos céus, e tu estás sobre a terra; portanto, sejam poucas as tuas palavras." Devemos ter reverência ao falar, especialmente diante de Deus. Falar demais pode ser expressão de arrogância e falta de temor.
O salmista orou pedindo ajuda divina: Salmos 141:3 – "Põe, ó Senhor, uma guarda à minha boca; guarda a porta dos meus lábios." Esse é o clamor de quem reconhece a dificuldade de controlar a língua e depende da graça de Deus para não pecar com os lábios.
Por fim, Jesus conclui com uma advertência séria: Mateus 12:36-37 – "Mas eu vos digo que de toda palavra ociosa que os homens disserem hão de dar conta no dia do juízo. Porque por tuas palavras serás justificado, e por tuas palavras serás condenado." Isso mostra que Deus leva nossas palavras muito a sério. Seremos julgados por elas, pois elas revelam o que há em nossos corações.
Uma História Real
Certa vez, numa pequena igreja do interior, uma irmã piedosa passava em frente à casa do pastor. De repente, ouviu gritos vindos de dentro da casa. Parou por um momento, assustada. "O que será que está acontecendo?" — pensou. Em sua mente, uma conclusão precipitada surgiu: “Será que o pastor está agredindo sua esposa?”
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Sem confirmar, sem buscar entender, contou a outros irmãos. E como acontece com todo boato, a notícia correu rápido... e aumentou. Quando o pastor chegou à igreja naquele domingo, pronto para pregar, encontrou um ambiente frio, olhares desconfiados, um silêncio estranho. Antes mesmo de abrir a Bíblia, um dos irmãos levantou-se e, com voz firme, disse diante da congregação:
— Pastor, nós não queremos mais ouvir seus sermões. Não queremos mais o senhor como nosso líder.
O pastor, sem entender, olhou para os irmãos e perguntou com o coração apertado:
— Mas o que eu fiz?
E ouviu como uma flecha:
— Sabemos que o senhor bate em sua esposa.
Chocado, o pastor parou o culto ali mesmo. Sem uma palavra de defesa, chamou sua esposa e saiu do templo. Com coragem e serenidade, a esposa do pastor ficou diante da igreja e disse:
— Irmãos, desculpem... mas isso não é verdade. Sou casada há 12 anos com esse homem. Ele nunca me agrediu. Se ele me batesse, eu seria a primeira a denunciá-lo. Somos felizes. E quem conhece nossa vida sabe disso.
Um silêncio constrangedor tomou conta da congregação. Os rostos começaram a se abaixar. Um a um, os irmãos pediram perdão. Então o pastor voltou, com humildade, e perguntou:
— Mas... de onde surgiu essa história?
Todos apontaram para a mesma pessoa: a irmã que passava em frente à sua casa.
O pastor a chamou para conversar. Ela, com lágrimas nos olhos, mal conseguia olhar para ele. Pediu perdão, profundamente envergonhada. E o pastor, com o coração cheio de graça, a perdoou. E explicou:
— Irmã, quando a senhora passou, estávamos brincando de pega-pega dentro de casa. Minha esposa gritava, sim... de tanto rir. Corríamos em volta da mesa, como duas crianças. Era apenas uma brincadeira boba entre marido e mulher.
A irmã baixou a cabeça, sem palavras.
Mas o pastor, com sabedoria, pediu que ela fosse à sua casa no dia seguinte. Ela foi, apreensiva. O pastor a colocou no carro e a levou até o topo da montanha mais alta da região. Lá, abriu o porta-malas, tirou dois travesseiros de penas e os entregou a ela, dizendo:
— Irmã, rasgue esses travesseiros e deixe o vento levar todas as penas.
Sem entender, ela obedeceu. As penas voaram longe, sumindo no horizonte.
Então o pastor disse com calma:
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— Agora, por favor, recolha cada pena.
A irmã, quase chorando, respondeu:
— Isso é impossível, pastor! Elas se espalharam...
O pastor, com olhos cheios de compaixão, concluiu:
— Assim também é o seu comentário. Depois que uma palavra é espalhada, não há como recolhê-la. Mesmo pedindo perdão, o estrago já foi feito. E há feridas que só Deus pode curar.
Que essa história viva em nossa memória.
Antes de falarmos, pensemos. Antes de julgarmos, oremos. E antes de espalharmos, investiguemos. A língua tem o poder de destruir — mas também o de curar. Que escolhamos sempre ser instrumentos de cura e edificação. Que nossas palavras sejam como bálsamo, e não como fogo.
E que nunca esqueçamos: palavras são como penas ao vento... uma vez ditas, jamais poderão ser recolhidas.
Fonte imagem:https://noticias.uol.com.br/saude/ultimas-noticias/redacao/2016/03/15/clique-ciencia-qual-e-o-animal-com-a-lingua-mais-comprida.htm
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