•Na biblioteca da Universidade de Gottingen, Alemanha, existe uma Bíblia que foi escrita em 470 folhas de palmeira.
Contexto histórico
Manuscritos em folha de palmeira são registros antigos feitos a partir de folhas de palmeira secas, utilizados como suporte de escrita no subcontinente indiano e no sudeste asiático. Evidências indicam seu uso desde pelo menos o século V a.C., e possivelmente antes disso. A prática começou no sul da Ásia, estendendo-se a outras regiões tropicais, incluindo Indonésia, Tailândia, Camboja e Filipinas. Folhas de diferentes espécies, como Borassus e Corypha umbraculifera (chamada ola), eram preparadas por processos específicos, como o tratamento com fumaça para conservação. Manuscritos em folhas de palmeira representam uma das formas mais antigas de preservação escrita, especialmente para textos religiosos e filosóficos, como os tratados sânscritos do hinduísmo e budismo.
Ano de publicação
Não existe um ano fixo de publicação para a Bíblia em folhas de palmeira, já que estes manuscritos eram produzidos artesanalmente ao longo de muitos séculos, entre o período antigo (pelo menos a partir do século V a.C.) até o início do século XIX, quando a impressão começou a substituir gradualmente a escrita manual. Manuscritos importantes em folhas de palmeira, como textos xivaítas do século IX ou fragmentos filosóficos do século II d.C., datam da Antiguidade e da Idade Média.
Autor
Não há um único autor para estas Bíblias ou textos manuscritos em folhas de palmeira, já que elas eram reproduzidas por escribas especializados. Esses copistas, frequentemente vinculados a templos hindus, jainistas ou budistas, tinham a missão de preservar, copiar e transmitir os textos sagrados. Assim, a autoria do texto original permanece com os autores tradicionais da Bíblia, mas a versão em folhas de palmeira é o resultado do trabalho coletivo e contínuo desses escribas.
Criação
O processo de criação dos manuscritos em folhas de palmeira incluía o corte, secagem e tratamento das folhas para garantir durabilidade. As folhas eram então cuidadosamente preparadas, muitas vezes cozidas e secas, para receber a escrita. Os caracteres eram gravados com uma caneta de faca de corte retangular, que riscava as folhas, e posteriormente uma tinta natural era aplicada para realçar as inscrições, retirando-se o excesso com um pano. As folhas, chamadas de Patra ou Parna em sânscrito, tinham orifícios para passagem de cordões, permitindo que fossem amarradas formando um códice portátil. Essa técnica exigia grande habilidade e garantia a preservação do texto por dezenas a centenas de anos, desde que preservadas em ambiente seco e protegido.
Publicação
A "publicação" dos manuscritos em folhas de palmeira era um processo artesanal e local, diferente da publicação impressa moderna. Os manuscritos eram copiados em templos e mosteiros, onde funcionavam como centros de aprendizado e custódia dos textos. A cópia regular era necessária devido à degradação natural das folhas causada por umidade, insetos e mofo. Com o advento da imprensa no século XIX, a produção desses manuscritos diminuiu drasticamente, e esforços modernos têm sido feitos para preservar e digitalizar os que restaram.
Características distintas
A principal característica desses manuscritos é seu suporte: folhas naturais de palmeira, tratadas para durabilidade. O formato físico inclui folhas retangulares com furos centrais para amarração, proporcionando portabilidade e organização. A escrita gravada, com letras arredondadas e cursivas — como nas escritas Devanagari, Tamil, Telugu, Lontara e outras — é uma adaptação à fragilidade das folhas, pois letras angulares poderiam rasgá-las. Em termos de conteúdo, esses manuscritos vão desde textos religiosos, filosóficos, gramáticas, até orações e literatura poética.
Linguagem e estilo
As línguas utilizadas variam conforme a região e a tradição religiosa, incluindo sânscrito, tâmil, malaiala, odia, javanês, entre outras. O estilo da escrita em folhas de palmeira tende a ser fluido, cursivo e adaptado para a técnica de gravação. Manuscritos em tâmil, como o famoso Tolkappiyam, remontam ao século III a.C., enquanto textos sânscritos importantes, como o Parameshvaratantra, datam do século IX. A linguagem reflete tanto a tradição oral quanto a escrita, e em muitas regiões a arte de copiar os textos era um dever sagrado dos escribas e brâmanes.
Importância e influência
Esses manuscritos são fundamentais para a preservação e transmissão do conhecimento religioso e cultural do sul e sudeste asiático. Eles fornecem informações cruciais sobre filosofia, religião, gramática, poesia e história local. A preservação desses textos também reflete a importância dos templos como centros culturais e bibliotecas, como as Sarasvati-bhandara da Índia medieval. Internacionalmente, manuscritos em folhas de palmeira influenciaram o design de sistemas de escrita que privilegiam curvas para proteger o suporte físico, refletindo uma interação única entre material, arte e linguagem.
Relação com outras traduções
As Bíblias em folhas de palmeira coexistiam com outras formas de manuscritos, como os em pergaminho, papiro e, mais tarde, os impressos. Em regiões do sul da Ásia, manuscritos em folhas de palmeira representavam a forma principal de preservação escrita para textos religiosos e literários, complementando versões traduzidas em outras línguas e suportes. Em países do sudeste asiático, a cultura indiana levou a produção de manuscritos conhecidos como lontar, preservados até hoje em templos e arquivos históricos.
Edições e legados
Hoje, os manuscritos em folhas de palmeira são importantes artefatos arqueológicos e culturais. Museus na Índia, como o Museu Estadual de Odisha, abrigam dezenas de milhares de exemplares, incluindo textos do século XIV, alguns com origem textual ainda mais antiga. Na Indonésia, manuscritos lontar continuam sendo preservados por brâmanes em Bali. Projetos modernos de digitalização, como o da Tamil Heritage Foundation, visam conservar e disponibilizar esses documentos para o público global. A introdução da impressão no século XIX quase extinguiu a produção desses manuscritos, mas seu legado permanece na história da escrita e da preservação cultural.
Conclusão
A Bíblia em folhas de palmeira, assim como outros manuscritos em folhas de palmeira, é uma expressão única da capacidade humana de adaptar o registro sagrado às condições ambientais e culturais locais. Essa forma antiga de manuscrito não apenas preservou textos importantes por séculos, mas também influenciou o desenvolvimento de sistemas de escrita e a organização do conhecimento religioso e literário. Sua sobrevivência até hoje e os esforços para preservá-la atestam sua importância histórica, cultural e espiritual.
Referência
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