Os meios de comunicação podem conduzir a atitudes e pensamentos contrários ao evangelho
RA – Estamos na era das Telecomunicações. Até que ponto podemos ser influenciados pela mídia? Ela altera comportamentos?
VSL – Mídia é a somatória dos meios de
comunicação: rádio, TV, jornal, revista, outdoor, propagandas em geral,
etc. ela é necessária a qualquer sociedade civilizada e não há como viver hoje
sem estar envolvido com ela. A maneira como é utilizada, entretanto, nem sempre
é de forma eticamente aceitável. Ela nos atinge passiva ou ativamente, positiva
ou negativamente. E como vivemos em um mundo capitalista, que necessita de
consumo para o crescimento e sobrevivência, a mídia é o veículo adequado
para impulsionar o processo que tende a visualizar mais as coisas do que as
pessoas.
Na propaganda, o que há de mais importante é ser o primeiro a chegar a
sua mente e fazer de você um cliente. E se o elemento em questão é a mente, o
assunto é realmente sério. As pessoas que lidam com a mídia sabem que o
ser humano tem desejos, ansiedades, sonhos, e que, se relacionarem seus
produtos a essas necessidades materiais (e mesmo espirituais), conseguirão
consumidores em potencial.
Exemplo: “Kolinos, o gosto da vitória!” Não há vitória em Kolinos; há
uma associação de um bem espiritual (vitória) com um bem material (creme
dental). O fato de que o creme dental previne as cáries não é relevante para as
pessoas, portanto, não se vende prevenção, vendem-se ilusões de realização.
Assim, podemos ser influenciados pela mídia porque ela entra em
nossa mente sem pedir licença.
A propaganda privilegia o fracasso, a carência, a necessidade, porque
sabe que uma pessoa realizada não necessita de consumo para se afirmar. O
comportamento se molda a partir de impressões cristalizadas pelo tempo. Hábitos
formados por sugestões da mídia podem facilmente alterar seus valores de
forma inconsciente. Você não precisa decidir para que sua mente seja influenciada
e aqui está a diferença entre a mídia e o evangelho, que é também
comunicação por excelência. Para aceitar um novo comportamento cristão, você
precisa tomar decisões conscientes. A mídia não pede licença para entrar
em sua vida. Jesus, sim. Aquele que pregou a liberdade, Aquele que é a
Liberdade em Pessoa diz: “Eis que estou à porta e bato, se você abrir...” Veja,
“se você abrir”, Jesus não força; Ele quer alterar nosso comportamento
também, mas com a nossa escolha, com a nossa decisão.
RA – Os pontos no IBOPE
são o alvo dos meios de comunicação. Isso parece estar causando um rebaixamento
da moral e dos bons costumes. Qual deve ser a postura do cristão diante disso?
VSL – Excetuando-se alguns poucos programas, ninguém faz
TV por amor ao próximo (aliás, parece que não se faz mais quase nada por amor
ao próximo). A programação é parte de uma máquina que visa dinheiro, muito
dinheiro. Quanto mais qualidade se aplica, maior o preço cobrado. Um filme pode
custar 200 milhões, como no caso do Titanic, mas o retorno é certo (e
que retorno!). as propagandas podem custar milhares de reais por segundo em
horários nobre e por que são tão caras? Simples, porque têm retorno. Portanto,
se a opinião pública demonstra não apreciar certo produto, ele estará fora de
circulação ou sofrerá significativas alterações (procedimento muito frequente
em novelas). A arte imita a vida que imita os cofres dos produtores.
Portanto, quando um produto não rende o esperado,
ocorrem mudanças que, com toda certeza, não serão feitas com base no
crescimento moral da população, mas nos índices do IBOPE. E para isso vale
tudo: sexo, violência, etc.
Há algum tempo, a rede OM de televisão (hoje, CNT)
resolveu pôr um filme obsceno no ar. Várias sociedades protestaram: “Onde já se
viu colocar pornografia na televisão!” A reação da Rede foi a mais previsível
possível: “Estamos quase no século XXI e não há censura. Não gostam do filme?
Vocês são livres, mudem de canal!” Por que é que a TV usa essa argumentação?
Ironicamente, porque extraíram da Bíblia um conceito que, usado às avessas,
conduz sua filosofia: “O bem que quero fazer, esse não faço; o mal que não
quero fazer, esse faço.” Esse texto do apóstolo Paulo mostra a angústia que o
homem passa quanto às suas intenções e seus atos. A psicologia da TV, portanto,
é a seguinte: “o bom filme a que a sociedade gostaria de ver, a esse ela não
vê; mas o mau filme, a baixaria que ela gostaria de evitar, a esse/essa ela vê.
E se as pessoas assistem a esses programas, mesmo sem querer, dão-nos IBOPE; e
é isso que nos interessa.”
RA – Como os pais devem agir com os filhos em relação à TV? Censurar,
simplesmente?
VSL – A concorrência é desleal. Pesquisas indicam que os
pais gastam muito pouco tempo com os filhos por semana. Somos transformados ou
moldados por aquilo que passamos mais tempo contemplando. O problema é que o
televisor reveste a mensagem com uma beleza incomum, irreal. Tanto cria, como
acaricia nossas necessidades e nosso ego para obter cada vez mais nossa atenção
e aprovação; molda seus programas a essas necessidades e carências. E com as
crianças não é diferente. E o pior é que para elas o bombardeamento se
apresenta em suas piores cores. Elas são um tremendo mercado hoje e mais ainda,
um mercado futuro em potencial.
É sabido que o comportamento não se altera pela
verdade científica. As pessoas não são transformadas pela verdade da ciência,
mas pela beleza. A verdade exige decisão, tomada de atitude consciente. Quando
uma criança está na frente do televisor, ela não precisa exercitar o poder de
decisão. As mensagens já vêm decididas (não se iluda com o programa Você
Decide; muita coisa vital já vem decidida). A beleza e graça das
personagens que imitam a vida real são imbatíveis. É como a visita de um tio
que dá presentes, beijinhos e sorvete, mas quem tem que punir os erros é o pai.
A parte difícil da educação compete aos pais. Assim é com a TV: mostra só o
“belo”, prende a atenção da garotada e os pais, que já dispõem de pouco tempo
para a educação dos filhos, quando querem colocá-los nos trilhos, têm de
apresentar a dolorida verdade. É óbvio que as crianças inconscientemente
preferirão a Xuxa ou a Angélica; afinal, “elas não brigam com a gente”.
Lembre-se: a batalha é vencida por aquele que chega
primeiro à mente. Quem está ocupando o primeiro lugar na mente de seus filhos?
RA – Há um conflito evidente entre o que os jovens ouvem nos cultos e os valores e costumes que lhes são transmitidos pela mídia. Como fica a mente deles diante disso?
VSL – Se cremos em tudo o que é dito na Igreja e aceitamos
as lições extraídas da Bíblia, mas vivemos de forma oposta àquilo com que
concordamos, estaremos criando uma diferença muito grande entre a teoria e a
prática. Viveremos em constante estado de desarmonia interior; e esta divisão gera
sofrimento. Isso é bíblico: “O homem de coração dobre é inconstante em todos
seus caminhos.” Nossa vida parece estar segmentada em duas partes distintas: a
espiritual, no sábado, e a material, que se inicia sábado à noite e vai até o pôr
do sol de sexta.
James A. Shlemberg apresenta uma teoria chamada “Dissonância Cognitiva.”
Essa teoria se divide em três partes: (1) você vive de acordo com o que crê, ou
(2) você crê naquilo que vive. (3) Se você não viver de acordo com qualquer
desses dois princípios, fatalmente perderá o equilíbrio mental.
Quem chega primeiro à nossa mente altera nossos hábitos. Quanto tempo
dedico à Bíblia e à meditação? Se não dedico nada, meu testemunho será
negativo, mesmo que eu não queira. Só minhas convicções não adiantam. Uma vez
que minha vida é susceptível às influências, só posso testemunhar daquilo que
acredito e vivo.
A mídia nos olha como consumidores, clientes, lucro em potencial.
Até mesmo o
tão atual processo de Qualidade Total tem limites. Segundo a Bíblia.
Temos que olhar o homem não como cliente, mas como nosso próximo.
RA – Uma vez que há uma
flagrante diferença entre aquilo que a sociedade secular nos propõe e o caminho
cristão, ser jovem adventista é ser “rebelde”?
VSL – Em certo sentido sim. Deus não muda; Seus
princípios são eternos. Já a sociedade está em constante movimento, alterando
suas normas de comportamento e, junto, está alterando também seus princípios
morais. Aquilo que era errado, não é mais. Na sociedade, há sempre constante
adaptação às necessidades de cada tempo, mesmo que para isso sejam sacrificadas
algumas normas de conduta. “Como o homem veio do macaco,” – dizem – “a moral
divina não importa.” A lei moral é uma “bela lenda.” E deve ser seguida com
ressalvas, pois as necessidades dos tempos modernos nos obrigam a constantes
adaptações. O problema é que a sociedade mudou tanto que obriga os seres
humanos a se comportarem adaptando-se aos novos tempos. Temos que nos curvar
aos apelos modernos para garantir a sobrevivência. Assim, adiamos muitas vezes
nosso compromisso com o Céu, porque parece que seus apelos não se adaptam aos
nossos dias. Curvamo-nos perante as exigências da sociedade, porém, quando o
assunto é obediência a Deus, solicitamos que Ele nos entenda; afinal, “estamos
bem intencionados”. “Trabalhei demais nesta semana para garantir minha
sobrevivência e a de meus filhos, portanto, neste sábado não irei à Igreja. O
motivo é justo e bom; Deus há de entender.”- pensamos. Assim, curvamo-nos
perante os apelos do mundo e nos esquecemos de nos curvar perante os apelos de
Deus, achando que Ele, em sua bondade, há de entender nossas “justas”
necessidades”. Mas Deus não aceita que O coloquemos em segundo plano. “Buscai primeiro
o reino de Deus e a Sua justiça”, é o que Ele diz.
Deus nos criou à Sua imagem e parece que o homem quer criar Deus à sua
imagem e semelhança. É a criatura querendo fazer Deus se sujeitar às suas
necessidades. Deus é bom, sim, e temos que seguir os Seus planos.
Os três jovens hebreus foram altamente rebeldes: “e fica sabendo, ó rei,
que não nos curvaremos...” Paulo foi rebelde. Basta lembrarmos de onde suas
cartas foram escritas: da prisão. Ele se rebelou por uma causa. Essa “rebeldia”
é necessária hoje. Homens que não se comprem nem se vendam por sua natureza
rebeldes em relação às causas injustas.