Contexto histórico
O Texto Massorético (MT) é um texto em hebraico do Tanakh, usado no Judaísmo como leitura sagrada, incluindo a Torá e outros livros considerados de inspiração divina. Foi elaborado por um grupo de escribas judeus conhecido como a “Escola de Massorá”, ativo principalmente entre os séculos VI e X d.C. Esses massoretas tinham a missão de reunir e preservar os textos considerados inspirados por Deus em um único escrito, examinando e comparando todos os manuscritos bíblicos conhecidos na época para garantir sua fidelidade. O termo "massorá" deriva da palavra hebraica mesorah (מסורה / מסורת), que significa "tradição", indicando a função desses estudiosos como guardiões da tradição textual.Ano de publicação
O Texto Massorético foi sistematizado e finalizado aproximadamente entre os séculos IX e X d.C., quando os massoretas completaram a padronização do texto e seus sinais vocálicos. A primeira impressão do texto em formato livreiro ocorreu em 1524, quando Daniel Bomberg, um cristão veneziano, imprimiu o Texto Massorético, o que posteriormente influenciou traduções como a de Lutero para o alemão.
Autor
O texto original tem origem na tradição hebraica antiga, mas a versão massorética é o resultado do trabalho coletivo dos massoretas, principalmente das escolas de Tiberíades, Babilônia e Jerusalém. Entre eles, Aharon ben Asher se destaca por seu sistema de pontuação vocálica. Os massoretas, além de copiar o texto, introduziram um sistema rigoroso de controle de qualidade que envolvia a contagem exata das letras em cada cópia para garantir a fidelidade absoluta.
Criação
Escrito em hebraico antigo, com letra quadrada, o Texto Massorético inclui sinais vocálicos e de cantilação criados pelos massoretas para indicar a pronúncia tradicional, que não estava explícita no texto consonantal original do hebraico. Esta padronização era essencial, pois na época da compilação o hebraico já não era uma língua falada popularmente, e havia dificuldade em manter a pronúncia correta. A metodologia de criação incluía a contagem rigorosa das letras para garantir que as cópias fossem idênticas ao texto original, destruindo qualquer cópia que apresentasse discrepâncias.
Publicação
Antes da invenção da imprensa, o Texto Massorético circulava em manuscritos cuidadosamente copiados. Com a invenção da imprensa no século XV, o texto foi impresso pela primeira vez por Daniel Bomberg em 1524, o que ajudou na disseminação da versão massorética. Esse texto impresso serviu de base para várias traduções protestantes do Velho Testamento, incluindo a tradução de Lutero para o alemão.
Características distintas
O Texto Massorético se destaca pela introdução dos sinais vocálicos e de cantilação, que definem a pronúncia correta e a entonação do texto bíblico. Estes sinais são complementos essenciais ao texto consonantal. Além disso, as notas marginais (massoras) fornecem informações sobre variantes textuais e regras de leitura. A precisão na transmissão do texto era assegurada pela metodologia rigorosa de contagem das letras, que evitava alterações não autorizadas.
Linguagem e estilo
Mantendo o hebraico bíblico original, o Texto Massorético preserva a estrutura, vocabulário e estilo literário antigos. O sistema vocálico criado pelos massoretas não altera o texto consonantal, mas ajuda a garantir uma pronúncia uniforme e correta para a leitura litúrgica.
Importância e influência
O Texto Massorético é a base textual para a maioria das Bíblias hebraicas modernas e influenciou fortemente traduções do Antigo Testamento em diversas línguas. No Judaísmo rabínico, é o texto sagrado autorizado. No protestantismo, muitas traduções do Velho Testamento utilizam o Texto Massorético como base. Em contraste, a Igreja Católica, após o Concílio de Trento (1545-1563), adota a Septuaginta — tradução grega do Antigo Testamento patrocinada por Ptolomeu II do Egito (287 a.C. – 247 a.C.) — como base para seu cânone.
Relação com outras traduções
O Texto Massorético difere da Septuaginta e do Texto Samaritanus em vocabulário, ordem e conteúdo. Essas diferenças são essenciais para os estudos textuais, pois permitem analisar variações e influências entre as versões antigas do Antigo Testamento.
Edições e legados
O Codex Leningradensis (cerca de 1008-1010 d.C.) é o manuscrito completo mais antigo do Texto Massorético e é a base para muitas edições impressas atuais. A edição impressa de Daniel Bomberg em 1524 é outra referência histórica fundamental. O trabalho dos massoretas não só assegurou a preservação fiel do texto bíblico, como também estabeleceu as bases da gramática do hebraico moderno.
Conclusão
O Texto Massorético constitui um marco decisivo na preservação e padronização do texto bíblico hebraico, assegurando sua integridade até os dias atuais. Sua influência transcende o judaísmo e alcança o cristianismo, moldando traduções e interpretações do Antigo Testamento e servindo como uma das fontes mais fiéis e respeitadas para o estudo das Escrituras.
Referências
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Fonte imagem:https://pt.wikipedia.org/wiki/Texto_massor%C3%A9tico