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30 março 2010

Septuaginta


Contexto histórico
A Septuaginta surgiu no contexto do mundo helenístico entre os séculos III e I a.C., período marcado pela disseminação da cultura e da língua grega após as conquistas de Alexandre, o Grande. Em Alexandria, uma das maiores cidades do Egito e um centro de saber da Antiguidade, havia uma grande comunidade judaica que já não falava hebraico, mas sim o grego koiné, a língua franca do Mediterrâneo oriental. Essa população necessitava de uma versão das Escrituras Hebraicas compreensível, o que levou à tradução da Bíblia hebraica para o grego, adaptando-a a uma nova realidade cultural e linguística.

Ano de publicação
A tradução começou com o Pentateuco por volta de 250 a.C. e estendeu-se ao longo dos dois séculos seguintes, sendo completada de forma progressiva até o século I a.C. Não há um único momento de publicação, pois a tradução se deu por etapas e os livros foram incorporados em diferentes tempos. A nomeação “Septuaginta” como título consolidado para a versão grega só aparece com mais força no século IV ou V d.C., especialmente com Santo Agostinho.

Autor
A Septuaginta foi produzida coletivamente por diversos tradutores judeus. De acordo com a tradição da pseudepigráfica “Carta de Aristeias”, 72 sábios judeus teriam sido convocados pelo rei Ptolomeu II Filadelfo para traduzir a Torá para o grego em Alexandria, resultando milagrosamente em versões idênticas feitas de forma independente. Essa história lendária visava atribuir autoridade divina ao texto. A realidade histórica, porém, aponta para diferentes tradutores, com variações estilísticas e teológicas entre os livros.

Criação
A criação da Septuaginta foi motivada pela necessidade dos judeus da Diáspora de manterem contato com sua tradição religiosa em uma língua que compreendiam. O trabalho teve início com o Pentateuco e depois avançou para os demais livros. A qualidade das traduções variava: alguns textos foram traduzidos de forma literal, outros com paráfrases ou mesmo reinterpretações. Muitos livros foram retraduzidos ou revisados, e alguns, como Sabedoria e 2 Macabeus, já foram compostos originalmente em grego. Há variações significativas de extensão e conteúdo em livros como Daniel e Ester, mais longos que suas versões no texto massorético. O cânon da Septuaginta incluía livros que não entraram na Bíblia Hebraica, como Eclesiástico, Judite, Tobias e os livros dos Macabeus.

Publicação
A Septuaginta não teve uma publicação formal em sua origem. Ela foi transmitida manuscritamente e amplamente usada entre judeus helenizados e cristãos primitivos. Os códices mais antigos contendo a Septuaginta são o Codex Vaticanus, o Codex Sinaiticus e o Codex Alexandrinus, todos do século IV d.C. As primeiras edições impressas surgiram no Renascimento, como a Bíblia Poliglota Complutense (1514–1517), a edição aldina (1518, Veneza), e a edição romana ou sistina (1586), baseada no Codex Vaticanus.

Características distintas
A Septuaginta é a tradução mais antiga da Bíblia Hebraica e contém livros e passagens ausentes do texto hebraico tradicional. Em muitos casos, seu conteúdo diverge significativamente do texto massorético, refletindo tradições textuais diferentes ou interpretações teológicas específicas. Ela introduziu um cânon mais amplo que influenciou profundamente o cristianismo e permanece como base textual das Bíblias das Igrejas Ortodoxas. É também a primeira tradução bíblica conhecida a apresentar um corpus em grego koiné.

Linguagem e estilo
Escrito em grego koiné, o estilo da Septuaginta varia amplamente. O Pentateuco foi bem traduzido e preserva uma estrutura clara e coerente. Em contrapartida, livros poéticos e proféticos muitas vezes apresentam traduções menos precisas, com dificuldades linguísticas e até absurdos textuais. Há livros cuja linguagem é mais refinada e adaptada à cultura helenística, enquanto outros preservam um estilo semítico mais rígido. Essa variação reflete tanto o tempo longo de produção quanto as diferentes competências dos tradutores.

Importância e influência
A Septuaginta teve impacto profundo na tradição cristã. Foi a versão do Antigo Testamento usada pelos primeiros cristãos, inclusive pelos autores do Novo Testamento, que frequentemente citam diretamente seu texto. Foi considerada inspirada por autores antigos como Fílon de Alexandria e Flávio Josefo. Padres da Igreja como Orígenes, Jerônimo e Agostinho também a reconheceram como valiosa. Serviu como base para traduções para o latim, copta, siríaco, armênio, georgiano e eslavônico. Embora abandonada pelo judaísmo rabínico a partir do século II d.C., estudos recentes e descobertas como os Manuscritos do Mar Morto renovaram o interesse acadêmico, revelando que alguns textos da Septuaginta podem preservar tradições hebraicas alternativas ao texto massorético.

Relação com outras traduções
A Septuaginta foi a base para muitas traduções antigas, como a Vetus Latina, usada antes da Vulgata. Jerônimo, ao traduzir a Vulgata, inicialmente baseou-se nela antes de recorrer ao hebraico. Também influenciou traduções orientais e liturgias cristãs. As versões eslavas, armênias, georgianas e coptas derivam em grande parte da Septuaginta. Embora traduções protestantes posteriores tenham preferido o texto massorético, muitas incluem os chamados “apócrifos” ou “deuterocanônicos”, que provêm da LXX, em seções separadas.

Edições e legados
Todas as edições impressas da Septuaginta derivam de três códices principais. A Bíblia Poliglota Complutense foi a primeira edição impressa, baseada em manuscritos hoje perdidos, mas muito próxima aos mais antigos. A edição aldina (Veneza, 1518) segue mais de perto o Codex Vaticanus. A edição sistina (1586), promovida pelo Papa Sisto V, foi fundamental para as revisões da Vulgata latina no pós-Trento. Seguiram-se edições importantes, como as de Holmes e Pearson (1798–1827), as sete edições de Tischendorf (1850–1887) e as quatro edições de Henry Swete (1887–1909). A edição de Grabe (1707–1720) baseou-se parcialmente no Codex Alexandrinus.

Conclusão
A Septuaginta é uma obra monumental da história da Bíblia e da cultura judaico-cristã. Sua criação reflete um momento de transição linguística e cultural que exigiu a adaptação da fé ao mundo helenizado. Influenciou profundamente o cristianismo, moldando sua teologia e seu cânon bíblico. Apesar das controvérsias modernas sobre sua definição e existência como versão unificada, seu legado é indiscutível. Permanece essencial para estudos bíblicos, história textual e compreensão das tradições judaicas e cristãs antigas. A Septuaginta não é apenas uma tradução — é uma ponte entre mundos e um testemunho da diversidade e fluidez da transmissão das Escrituras.

Referências

  1. Carta de Aristeias (pseudepígrafo), relato lendário sobre a tradução da Torá para o grego.

  2. Jones, F.F. & Silva, M. Invitation to the Septuagint, 2010.

  3. Flávio Josefo, Antiguidades Judaicas, 12.57 e 12.86.

  4. Tov, Emanuel. Textual Criticism of the Hebrew Bible, 2012.

  5. Saldarini, Anthony J. Pharisees, Scribes and Sadducees in Palestinian Society, 2001.

  6. Charlesworth, James H. The Old Testament Pseudepigrapha, 1983.

  7. Collins, John J. Introduction to the Hebrew Bible, 2004.

  8. Tov, Emanuel. The Septuagint Translation of Jeremiah and Baruch, 1999.

  9. Liddell, H.G. & Scott, R. A Greek-English Lexicon, 1940.

  10. Augustine de Hippo, A Cidade de Deus, Livro XVIII, capítulo 42.

  11. Philo de Alexandria, De Vita Mosis; Megillah 9a-b (Talmude Babilônico).

  12. Biblia Poliglota Complutense, 1514–1517.

  13. Holmes, F.L. & Pearson, H.J. Septuaginta, Oxford, 1798–1827.

  14. Tischendorf, Constantin von, edições da Septuaginta, Leipzig, 1850–1887.

  15. Swete, Henry Barclay, The Old Testament in Greek, Cambridge, 1887–1909.

  16. Grabe, John Ernest, Septuaginta, Oxford, 1707–1720.


Fonte imagem:https://cursoaleftav.com.br/porque-o-povo-da-alianca-rejeita-a-septuaginta/

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