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29 novembro 2010

Biblia de Erasmo - Textus Receptus

Contexto histórico
A Bíblia de Erasmo, também conhecida como Textus Receptus, foi criada em um período de intensa efervescência intelectual e religiosa na Europa, durante o Renascimento e o início da Reforma Protestante. Na virada do século XVI, havia uma crescente demanda por textos bíblicos mais próximos dos originais, devido ao humanismo renascentista e à insatisfação com a Vulgata Latina, versão oficial da Igreja Católica. Este cenário impulsionou estudiosos como Erasmo de Roterdã a buscar textos mais fidedignos das Escrituras.

Ano de publicação
A primeira edição da Bíblia grega de Erasmo, o Novum Instrumentum omne, foi publicada em 1516. Essa obra marcou a primeira publicação do Novo Testamento grego impresso. Foram lançadas cinco edições ao longo da vida de Erasmo, sendo a última em 1535.

Autor
Desidério Erasmo de Roterdã foi um teólogo, filósofo e humanista holandês. Considerado um dos maiores eruditos de sua época, Erasmo promoveu a crítica textual e o retorno às fontes originais do cristianismo. Embora crítico de abusos na Igreja, ele permaneceu dentro da fé católica e não aderiu diretamente à Reforma Protestante.

Criação
Erasmo baseou seu texto grego principalmente em manuscritos medievais bizantinos relativamente recentes e limitados, principalmente do século XII. Sem acesso ao texto completo do Apocalipse, por exemplo, ele traduziu partes diretamente do latim de volta ao grego. A pressa para publicação — motivada pelo receio de ser superado por outras edições concorrentes — levou a erros que foram corrigidos nas edições subsequentes. A obra apresentava o texto grego ao lado de uma nova tradução latina, acompanhada de anotações críticas.

Publicação
A primeira edição foi publicada em Basileia, Suíça, pela gráfica de Johann Froben. Erasmo enfrentou forte pressão de tempo, completando a revisão em poucos meses. As edições seguintes (1519, 1522, 1527 e 1535) traziam correções e aperfeiçoamentos. A terceira edição (1522) é particularmente significativa por ter sido usada por Martinho Lutero em sua tradução alemã do Novo Testamento.

Características distintas
A obra de Erasmo se destacou por ser a primeira publicação impressa do Novo Testamento em grego, contrastando com a Vulgata Latina, até então predominante. Sua inclusão de uma nova tradução latina, mais próxima do texto grego, causou controvérsia entre os teólogos. O texto grego de Erasmo se tornou a base para o que mais tarde seria chamado de Textus Receptus, após a edição de 1633 dos irmãos Elzevir, que o consagrou com esse nome.

Linguagem e estilo
A tradução latina de Erasmo apresentava uma linguagem mais refinada, próxima do estilo clássico, em contraste com a latinidade eclesiástica da Vulgata. No texto grego, Erasmo buscou uma fidelidade à linguagem dos manuscritos disponíveis, ainda que com interferências de reconstruções próprias, sobretudo onde os manuscritos eram incompletos. Seu estilo era erudito, porém acessível ao público instruído.

Importância e influência
A Bíblia de Erasmo exerceu profunda influência na Reforma Protestante. Foi a base textual usada por tradutores como Lutero (alemão), William Tyndale (inglês), João Ferreira de Almeida (português) e para a King James Version (1611). Erasmo, ao privilegiar os textos originais, contribuiu para uma leitura crítica da Escritura, fomentando debates doutrinários e teológicos em todo o mundo cristão ocidental.

Relação com outras traduções
O Textus Receptus, oriundo das edições de Erasmo, foi o texto predominante no protestantismo por mais de 300 anos. Só foi superado no século XIX, com a descoberta de manuscritos mais antigos e o desenvolvimento da crítica textual moderna, que deram origem ao texto crítico, base de traduções modernas como a New International Version (NIV) e a Almeida Revista e Atualizada. Ainda assim, traduções como a Almeida Corrigida Fiel continuam baseadas no Textus Receptus.

Edições e legados
Das cinco edições de Erasmo, a segunda e a terceira são as mais influentes. A terceira (1522) inclui a passagem de 1 João 5:7 com a Comma Johanneum, ausente nas edições anteriores, incluída sob pressão da Igreja. As edições de Erasmo foram sucedidas por outras baseadas no mesmo texto bizantino, como as de Robert Estienne (Stephanus) e Teodoro Beza. O Textus Receptus consolidou-se como a versão-padrão para tradutores protestantes até o advento das edições críticas no século XIX.

Conclusão
A Bíblia de Erasmo é um marco na história da crítica textual e da tradução bíblica. Mesmo com limitações nos manuscritos utilizados e críticas posteriores de estudiosos modernos, sua contribuição foi essencial para a disseminação das Escrituras em línguas vernáculas e para o fortalecimento da Reforma. Sua abordagem filológica e crítica estabeleceu um novo paradigma na leitura e interpretação dos textos sagrados.

Referência
Metzger, Bruce M. The Text of the New Testament: Its Transmission, Corruption, and Restoration. Oxford University Press, 1992.
Scrivener, F.H.A. A Plain Introduction to the Criticism of the New Testament. Cambridge University Press, 1894.
Erasmus, Desiderius. Novum Instrumentum omne, 1516–1535 editions.

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